terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Espessura do Tempo - Castelo Branco_parte I


Há uns dias atrás, recebi um inesperado convite, que chegou da Câmara Municipal de Castelo Branco, mais precisamente do Carlos Matos - Participar no projeto Espessura do Tempo.
 
Por vários motivos, mas sobretudo por me rever neste tipo de projectos e no trabalho do Carlos, decidi aceitar o convite.
 
No sábado de manhã, num pequeno almoço solitário, saiu o primeiro desenho. Fiquei no Tryp Colina Hotel, com uma vista soberba e um atendimento 5 estrelas.
 
 
9h - Encontrámos-nos junto ao Teatro Cine - lá estava uma carrinha da Câmara e o motorista, o Sr. Mota, com uma paciência e uma disponibilidade inesgotáveis. Aos poucos, os desenhadores foram aparecendo. Não conhecia ninguém, apara além do Carlos.
 
Lá fomos nós numa espécie de rally paper desenhado pelas freguesias rurais do concelho.
 
A 1ª paragem foi na ponte do Rio Ocreza, junto ao moinho do Ti Diogo, que infelizmente faleceu no ano passado. As casas estão a ser recuperadas pelos filhos. Felizmente, antes de falecer o Carlos tratou de perpetuar a história de vida do Ti Diogo, registando longas conversas que resultaram num documentário - O último Moleiro do Rio Ocreza.
 
Desde o casario implantado à beira do rio, até à paisagem envolvente, trata-se de facto de um local extraordinário, que para ser perfeito só ficam a faltar as pessoas. Estava um frio daqueles. O chão ainda estava branco do gelo, mas aos poucos o sol começou a beijar as rochas e as paredes das casas, como que a dizer "Fiquem". Assim foi, ficámos...e desenhámos.
Ao desenhar, dei por mim a imaginar o quotidiano do Ti Diogo, a sua vida pessoal e a relação com os agricultores que aqui vinham deixar os cereais. 
 
 
 
2ª Paragem - Chão da Vã - Deparámo-nos com esta preciosidade. Sentamo-nos a desenhar e rapidamente aparecem alguns moradores, para ver o que é que "estes malandros" andavam a fazer. Das conversas que fomos ouvindo, desde o melhor peixe do dia, ao endireita e ao voltarem, retive esta conversa:
 
"Andam à procura de casa para comprar? Essa não vale a pena, o dono antes de morrer, ofereceu à Câmara, para deitar abaixo. O Largo precisa de mais largueza para a Festa. O problema é que já não há, nem pessoas, nem festa. Mas pelo sim, pelo não, vão mesmo mandar a casa abaixo".
 
É pena, se isso acontecer, atrevo-me a dizer que vão perder a casa mais bonita da aldeia. Mas ficará registada na nossa memória.
 
 
 
3ª Paragem - Lá fomos nós pelas ruas estreitas e curvilíneas até à Malhada do Cervo. Esta casa, pelas tonalidades do xisto, chamou-me à atenção. Juntei-me ao Carlos, até que nos apareceu mais uma solicita moradora - "Querem comprar casa?" " O que é que andam a fazer?" "Querem tomar alguma coisa?" Estou de volta do almoço e à espera do meu cliente, que deve estar a chegar". Ouvimos uns passos, aí vinha o cliente, o marido, ou seja, o Ti Ricardo. Depois de nos contar a vida quase toda, lá foi para casa, atraído pelo cheiro do guisado da sua esposa. Percebemos que estávamos atrasados. De repente o cheiro do guisado tornou-se demasiado violento, tivemos de fugir.
 
 
 
 
 
 
Para mais tarde recordar, eu e o Ti Ricardo.
 
Nota: Nos próximos dias publicarei os restantes desenhos

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Nota Biográfica

André Duarte Baptista, arquiteto, nasce em 1980 na cidade de Torres Vedras, onde reside e trabalha. Em 2013, obtém o grau mestre em arqui...