Espaço de reflexão e partilha sobre temas de interesse do autor: arquitectura, património cultural, regeneração urbana, desenho e fotografia. "O amor a todas as coisas é fruto do conhecimento que temos delas, e aumenta à medida que o nosso conhecimento se torna mais preciso." Leonardo Da Vinci
domingo, 13 de dezembro de 2015
Gaeiras - Óbidos
aqui fica o contributo possível. apesar do braço ao peito, não desenhei com a mão esquerda .... o melhor desenho é do tomás, que dedicou-se aos detalhes e à forma como utilizar/exibir o seu novo estojo. talvez por isso tenha desenhado pouco :-)
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Convento de Mafra
No dia 6 saí cedo de casa a pensar que ia desenhar o Museu da Eletricidade (manhã) e o Palácio de Sintra (tarde). No Museu da Eletricidade só fotografei e pus a conversa em dia com os sketchers presentes. A Sintra, infelizmente já não consegui ir. A caminho para casa, parei à frente deste gigante e decidi que tinha chegado a hora de o enfrentar (literalmente).
Era para ter ficado pela linha, mas ouvi uma voz "Faber-Castell...Faber-Castell" : Olhei para os lados e não encontrei ninguém, mas tenho a certeza que era o nosso amigo Procópio a castigar-me por passar por Mafra e não o ter convidado a desenhar comigo... Abraço António
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
dia mundial da pessoa com deficiência
Torres Vedras para Todos
No dia 3 de dezembro - dia mundial da pessoa com deficiência, o Museu Municipal Leonel Trindade em parceria com o Gabinete de Apoio à Pessoa com deficiência Visual, organizou uma atividade de sensibilização para os problemas de mobilidade e acessibilidade no espaço urbano da cidade de Torres Vedras.
Para tal, juntaram utentes com deficiência visual, utentes da APECI - Associação para o Ensino da Criança Inadaptada e técnicos da Câmara Municipal de Torres Vedras, como arquitectos, engenheiros e urbanistas, entre outros.
De olhos vendados, de cadeira de rodas ou de canadianas, partiram partiram todos para um passeio na cidade, rumo ao Choupal, onde tiveram oportunidade de se depararem com os constrangimentos que os portadores de deficiência vivenciam diariamente. Em cada obstáculo, um apontamento, uma queixa, uma reflexão conjunta para encontrar soluções.
Apesar dos obstáculos, verifica-se que as ultimas intervenções no espaço público já melhoraram e muito as condições de acessibilidade e mobilidade. Passo a passo, obra a obra, melhorar e corrigir o que está mal executado. Essa melhoria tornou-se mais evidente quando nos aproximámos do Choupal, recentemente inaugurado. Aí tivemos oportunidade de visitar o Atelier dos Brinquedos, onde todos juntos conversámos sobre a experiência, os principais problemas e as possíveis soluções.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Desenhar com Mateus Rosada (SP-Brasil)
Hoje abro uma exceção. Publico um desenho que não é meu. Melhor, é meu porque me foi oferecido. Mas não é de minha autoria.
É um desenho do Mateus Rosada, urban sketcher de São Paulo, que me honrou com a sua visita. Tive o prazer de o receber em Torres Vedras, a minha cidade. Tínhamos combinado desenhar muito, mas acabámos por falar mais do que desenhar. Falámos sobre desenho, mas sobretudo falámos desta relação especial entre Torres Vedras e Brasil.
Obrigado Mateus, pelo desenho e por me trazeres mais um pouco do Brasil até Torres Vedras.
Até sempre...
Desafio 60 USK Portugal
Antigo Convento de Penafirme - Torres Vedras
Pode desenho transformar algo tradicionalmente feio, em algo belo?
Claro que sim, quando me falam destas questões, lembro-me sempre de um dos autores que me levaram a cultivar o gosto pelo desenho: Piranesi (Itália - 1720-1778). Os seus desenhos de ruínas são de uma beleza inigualável. A beleza dos seus desenhos tiveram a capacidade de despertar a humanidade para a inventariação e slavaguarda do património. Os seus desenhos são poéticos e são a prova provada de que é possível transformar o feio em belo.
Falar de Piranesi e depoi partilhar um desenho meu é talvez das coisas mais estúpida que tenha feito, mas gostava de partilhar convosco o porquê de eu gostar de ruínas.
São belas, pelas marcas do tempo e do homem. São belas pela forma como se relacionam com a envolvente. São belas pela forma como se desmoronam e vão-se fundindo com o solo. São belos rasgos de luz que nelas penetram. São belas porque são portadoras da nossa história e identidade.
São feias, porque na maioria dos casos são o reflexo da não existencia de mecanismos (dinheiro e vontade) que possam conservar estes edifícios.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Desenho com o Tomás
Domingo, dia 15 de novembro, uma manhã de sol, o Verão de S. Martinho teima em ficar.
Pai, vamos desenhar ? Sim, onde? Santa Cruz, depois escolho o quê...
Pai, já sei, vamos desenhar os aviões.... Ok?
Aeródromo de Santa Cruz - Tomás em pleno trabalho
Foi uma experiência interessante. Apesar de viver junto a eles, desde sempre, foi a 1ª vez que estive parado a olhar para eles e a desenhar.
Os dois desenhos que se seguem são do Tomás, que fê-los à pressa com medo que descolassem. Foi um bom exercício, obrigou-o a soltar o traço :-)
Estes são os meus, completamente ofuscados pelos do Tomás!!!!
De seguida fomos até à praia, onde fizemos mais uns desenhos
Escultura de homenagem ao poeta japonês Kazuo Dan.
"Kazuo Dan, um dos mais populares escritores japoneses do período do pós-guerra, nasceu na província de Yamanashi, no dia 3 de Fevereiro de 1912, quando o seu pai aí trabalhava como engenheiro num laboratório nacional. Fonte: http://praiadesantacruz.com/stcruz/stcruzkazuo-bio.htm
A escultura tem vários carateres japoneses. O Tomás começou a desenhar, mas não teve tempo de desenha-los todos, por isso não me deixou digitalizar o seu desenho...
Enquanto ele se divertia, eu consegui fazer uns riscos. Agora tenho de treinar mais, pois o mestre Tomás é bastante exigente.
sábado, 14 de novembro de 2015
esquecido_Inauguração do Choupal
26_setembro_2015
No dia 26 de setembro foi dia de (a)Riscar o Património, mas não só..
Também foi dia de inauguração do Parque Verde do Choupal em Torres Vedras.
No final do (a)Riscar fomos à inauguração e eu fiz alguns desenhos para assinalar este dia tão especial para os torrienses. Aqui fica um desses desenhos.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
dia de S. Martinho, Feriado Municipal em Torres Vedras
Ontem foi dia de S. Martinho, Feriado Municipal em Torres Vedras. Um dia fantástico, com muito sol. Fomos até à praia.
Praia de Ribeira D'Ilhas - Ericeira - Mafra
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Casa João do Rio: a nossa estreia
Há muito que este dia vinha sendo adiado, no entanto desta vez, por uma conjugação de fatores, finalmente aconteceu: a minha estreia na Casa João do Rio, uma verdadeira Casa da Cultura. Graças à generosidade da Maria Celeste esta casa tornou-se numa referência identitária dos urban sketchers Portugal, um espaço onde todos se sentem em casa. Tive o privilégio de sentir o porquê desta relação tão especial. Para além do abraço contagiante da Maria Celeste, fomos recebidos (eu, Marta e Tomás) por outros urban sketchers e pela Helena Monteiro, que nos presenteou com os seus desenhos feitos este ano em Florença. Penso que todos nós viajámos até Florença através dos seus desenhos.
Quando cheguei à Praça João do Rio, encontro a Isabel Braga a desenhar. Como não sabia qual seria a casa, detenho-me sobre uma perspetiva e começo a riscar, para assinalar o memento. Estou a testar um caderno que me ofereceram no Brasil. Ultimamente não tenho comprado cadernos, vou riscando aqueles que me vão oferecendo.
Tentei riscar (sem sucesso) a Helena e a Maria Celeste. Peço desculpa pela minha falta de jeito, mas prometo que fi-lo com as melhores das intenções :-)
Para além da fantástica apresentação da Helena e do convívio entre amigos, retenho sobretudo o regresso do meu filho Tomás ao desenho. A Casa João do Rio, com "todas as coisas antigas" (palavras do Tomás), inspiraram-no e desde esse dia tem desenhado mais que eu (em quantidade e qualidade). O Desenho que se segue é de sua autoria.
Obrigado Helena e Maria Celeste pela óptima tarde. Até breve
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
dia de desenho
manhã
os moinhos na paisagem - alto da bordinheira - entrada norte da bordinheira - Ventosa - Torres Vedras
os moinhos na paisagem - estrada entre bordinheira e arneiros - a poente
tarde
depois de uma manhã solitária, nada melhor que uma tarde na companhia de amigos e família.
Centro Ambiental de Torres Vedras - Portugal 2055 - encontro de desenho e apresentação da BD Portugal 2055, com Penim Loureiro
alguns desenhos que consegui fazer
Este desenho contou com a preciosa ajuda da Ana Frazão, mais precisamente na pintura da copa das árvores. Obrigado Ana
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
desenho vadio
A caminho de Lisboa, encontrei este conjunto arquitetónico, um velho casal largado ao abandono à espera de melhores dias. Fica numa freguesia rural do concelho de Torres Vedras
De regresso, não resisti a encostar na berma e desenhar estes "dois meninos": Castelo de Torres (direita) e forte de S. Vicente (esq)
À espera de um amigo. Já foi tempo em que eu me chateava quando tinha de esperar por alguém.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Património - Parte I
Tempos Modernos. Fonte: http://www.cinevest.com.br
I. PATRIMÓNIO
O património edificado tem-se afirmado como um tema complexo e controverso, no debate da arquitectura do séc. XXI, mas o facto de ser cada vez mais debatido, tem permitido dissipar algumas ideias preconcebidas. As teorias sobre o património, exigem um estudo meticuloso e sério, para não cairmos em afirmações banais e genéricas, principalmente quando se pretende transformar a teoria em prática.
A Europa teve um papel determinante na ‘propagação’ de uma cultura universal, mas é nos Estados Unidos da América onde se dão as grandes descobertas e as grandes inovações, através das cidades dos ‘arranha-céus’, que mudaram radicalmente o ‘modus vivendi’ do ser humano. Desde a antiguidade clássica que o homem desafia a sua capacidade intelectual, mas são os humanistas do Renascimento que começam a testar as primeiras máquinas, culminando na Revolução Industrial, onde o homem, aliado à máquina, consegue quebrar barreiras, alcançando feitos inimagináveis, mas ao mesmo tempo, deixando de se preocupar com as consequências das suas descobertas. O domínio sobre a natureza e a máquina, deixa a humanidade alienada da realidade e aos poucos torna-se vítima das suas próprias conquistas. A pelicula cómica Tempos Modernos de 1936, com Charlie Chaplin, descreve bem esta relação de dependência, amor e ódio, entre o homem e a máquina.
Todas as crises socioeconómicas levam o ser humano a uma reflexão, resultando muitas vezes, no cultivo de ideologias antagónicas: Revivalismo ou Futurismo. O Revivalismo enquadra-se nas teorias de defesa dos paradigmas do passado, no regresso a um passado, hipoteticamente perfeito. Os futuristas são todos os que pretendem fazer tábua rasa do passado, da história, da própria Identidade, procurando um novo modelo, uma verdadeira ruptura com o passado. Independentemente das ideologias é impossível libertarmo-nos do passado, afinal, a sociedade assenta sobre um quadro genético, onde a memória tem uma importância fundamental e como tal, todo o ser humano, desde que nasce vai assimilando tudo o que o rodeia e isso vai-se repercutir nas suas ações, logo no espaço que o envolve diariamente. Como tal, julga-se fundamental o equilíbrio entre passado e futuro: valorizar o passado, projectando o futuro. Porém, a valorização do passado apenas fará sentido, se servir para reflectir sobre o presente e prever/melhorar o futuro, tendo o património um enorme potencial, enquanto elemento activo no combate à desertificação dos Centros Históricos e na valorização da História e Identidade da sociedade.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
matriz urbana e identidade do lugar: Centro Histórico de Torres Vedras
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Congresso internacional
O Centro Histórico no Novo Paradigma Urbano
Orador: André Duarte Baptista
Março 2014
matriz urbana e identidade do lugar
Centro Histórico de Torres Vedras
Introdução
Quero começar por
cumprimentar os responsáveis pelo Congresso “Os Centros Históricos no Novo Paradigma
Urbano” e expressar o meu profundo agradecimento pelo convite, para nele
participar.
O tema geral que nos é
proposto é o papel dos centros históricos nas cidades do séc. XXI. O estudo aqui
apresentado, é o centro histórico de Torres Vedras, que se encontra num
profundo processo de reconfiguração urbana promovida pelo programa de
reabilitação urbana “Torres ao Centro”,
assente sob as directrizes do Plano de Pormenor de Reabilitação Urbana do Centro
Histórico, em vigor desde 2010.
A reabilitação de um centro
histórico depende muito do plano a ele subjacente, que estabelece as premissas
a seguir, assim como os objectivos pretendidos. Os planos estratégicos deveriam
resultar da articulação entre a legislação em vigor e a análise do Lugar. A
legislação indica que essa análise deve centrar-se na Identidade do Lugar:
arquitectura, urbanismo, população, habitat, património, economia, história,
cultura….. Tendo em conta que os centros históricos foram, na sua maioria,
elementos dinâmicos capazes de se adaptarem às circunstâncias de cada
época/sociedade, torna-se fundamental conhecer a evolução da sua matriz urbana
ao longo dos séculos, assim como a sua relação com as dinâmicas de crescimento
da restante urbe e se essa reconfiguração comprometeu ou não a Identidade do
Lugar.
A
presente comunicação alicerça-se na dissertação de mestrado O Lugar como Simbiose: Centro Histórico de
Torres Vedras, por mim defendida, na Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias. Essa investigação pretendeu colmatar a ausência de um documento,
de conhecimento público, complementar que permita conhecer a sua morfologia
urbana. Tendo em conta que a matriz urbana é uma das premissas fundamentais da
Identidade, julga-se primordial o exercício de reconstituição do seu
desenvolvimento urbano. Tal exercício ajuda a sensibilizar os mais
conservadores, para o facto de estas zonas antigas nunca terem sido estáticas,
mas sim dinâmicas, capazes de se adaptarem aos novos desafios e que foi essa
capacidade que permitiu-lhes chegar ao séc. XXI, através de processos de
reconfiguração, uso e manutenção. Conhecer a sua evolução urbana e os pólos de
atracção do crescimento periurbano, permite-nos entender quais os elementos
essenciais que caracterizam a morfologia urbana, cujo desaparecimento,
colocaria em causa a Identidade do conjunto. Por outro lado possibilita-nos
reflectir sobre a continuidade de outros, cujo desaparecimento poderia
beneficiar a harmonia e sustentabilidade do todo. A construção e a demolição, o
avanço e o recuo, estiveram sempre presentes na evolução das urbes. Um centro
histórico é como um corpo composto por várias células, onde não podemos
dissociar as partes do todo. Mas também não é menos verdade, que qualquer
célula necessita de se regenerar.
As dinâmicas de desenvolvimento da matriz
urbana dos centros históricos e a sua relação com a restante cidade, podem e
devem contribuir para alcançar soluções inovadoras que promovam a revitalização
destas zonas adormecidas através do combate à sua sacralização e consequente “museificação”.
Independentemente das ideologias, torna-se
quase impossível libertarmo-nos do passado, afinal a sociedade assenta sobre um
quadro genético, onde a memória tem uma importância fundamental e como tal,
todo o ser humano, desde a sua nascença, vai assimilando tudo o que o rodeia e
isso vai repercutir-se nas suas acções, logo no espaço físico que o envolve
diariamente. Como tal, urge um equilíbrio, nesta relação tão delicada entre
passado e o futuro, Valorizar o passado, sim, mas projectando e promovendo o
futuro dos edifícios e dos lugares, logo da sociedade.
Documento completo em: https://www.academia.edu/7816208/matriz_urbana_e_identidade_do_lugar
Lugar Onde: escritas e dizeres
Lugar Onde, escritas e dizeres da autoria do Prof Moedas Duarte - Jornal Semanal Badaladas - Torres Vedras
Obrigado professor. Obrigado pelas generosas palavras e consideração. Obrigado, sobretudo pelo interesse e apoio prestado às nossas actividades de desenho.
O PAPEL DAS ESTRADAS ANTIGAS NO DESENHO URBANO DAS CIDADES
17 de junho de 2015
Seminário Internacional
As
Estradas Antigas no Ordenamento do Território
Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias
e
Câmara Municipal de Torres
Vedras
Resumo: Preparado
como texto de suporte para uma comunicação ao Congresso “Estradas Antigas na
Configuração do Território Urbano”, começamos por fazer um enquadramento da
evolução das designações conferidas às estradas, a partir do séc. XVIII.
Seguidamente, damos a conhecer o contributo dos vários povos que ocuparam a
urbe de Torres Vedras e o papel dos caminhos na organização do território. Por
último, analisamos o papel que duas estradas, actualmente denominadas de
estradas nacionais tiveram no desenvolvimento urbanístico do centro histórico
de Torres Vedras: A EN 8 tinha, que como principal objectivo ligar Lisboa a
Alcobaça e a EN 9, que passou a ligar Cascais a Alenquer. Para além de entender
a sua evolução, importa sobretudo entender papel fundamental que ambas podem e
devem assumir no profundo processo de reconfiguração urbana que a cidade sofre
na sua zona norte: Plano de Pormenor do Choupal e Áreas Envolventes (PPCAE), no
âmbito da Intervenção POLIS, que inclui o reperfilamento de troços das duas
Estradas Nacionais; Área de Reabilitação Urbana da Encosta de São Vicente.
O PAPEL DAS ESTRADAS ANTIGAS NO DESENHO URBANO DAS CIDADES:
TORRES VEDRAS E AS ESTRADAS
NACIONAIS 8 E 9
Quero começar por cumprimentar os responsáveis pelo Congresso
“Estradas Antigas na Configuração do Território Urbano” e expressar o
meu profundo agradecimento pelo convite, para nele participar. O tema geral que
nos é proposto é o papel das “Estradas Antigas na
Configuração do Território Urbano”, nomeadamente no desenvolvimento dos
lugares, na criação de traçados, morfologias e paisagens urbanas. Mais do que
uma análise do papel assumido no passado, nomeadamente na identidade e
importância das cidades, este estudo pretende dar a conhecer o papel que estas
estradas assumem ainda na memória colectiva das pessoas, afinal “a estrada é, acima
de tudo, civilidade, tem que ser construída para o uso das pessoas e para
efeitos de uma economia. A estrada romana é ainda hoje modelo de mecanismo
social. Levava não só os poetas até Brindisi, como as mercadorias aos portos e,
mais ainda, a imaginação até aos confins da memória.” (Agostina
Bessa-Luís, 2008).
É na segunda metade do século XVIII que se inicia em Portugal
a classificação da rede de estradas, tendo em conta as suas características e
hierarquia, apontando como principal objectivo a realização de obras que
melhorassem o sistema viário. No entanto, apenas em 1843, com o Decreto de 26
de Julho, é definido o programa de construção de estradas directas, tendo como
ponto de partida Lisboa, rumo às capitais de distrito. Das estradas directas
ramificavam um conjunto de estradas transversais, com o objectivo de alcançar o
litoral e as fronteiras. Assim sendo, em 1850, a rede viária é classificada em
estradas reais e caminhos, e é na década de 1850 com António Maria Fontes
Pereira de Melo, como Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, que se
iniciam as grandes obras na estrutura viária, com especial enfoque no
caminho-de-ferro. No ano de 1862, com o Decreto de 15 de julho, dá-se uma nova
mudança na classificação da rede de estradas: reais, distritais e municipais.
Esta alteração estabelece ainda as competências do governo e dos municípios na
construção e manutenção das estradas. Em 1868 inicia-se um conjunto de obras
públicas com o objectivo de modernizar a rede viária e restantes
infra-estruturas, como caminho-de-ferro e pontes. Este processo estende-se até
1889, ano em que dá-se uma nova classificação das estradas: reais e distritais.
Em 1910, o Ministério do Fomento, com o Decreto de 29 de Dezembro, estabeleceu
que “(…) as estradas reais ou de primeira ordem passassem a denominar-se
estradas nacionais ou de primeira ordem.” (Relatório de Monitorização da Rede
Rodoviária Nacional, 2010). O ano de 1926 marcou o fim da 1.ª República e em
1927, é publicado o Decreto-Lei n.º 13 969, de 20 de Julho, que cria a Junta
Autónoma das Estradas (JAE) e a Direcção-Geral de Estradas, extinguindo a
Administração Geral das Estradas e Turismo. Surge assim, em 1928, uma nova
classificação das estradas: nacionais (de 1.ª e 2.ª classes); municipais e
caminhos públicos. Para além da classificação, o decreto estabelece que as
primeiras ficam sob a responsabilidade do Estado e as segundas dos municípios.
Com as crises políticas e os efeitos recessivos da 1ª Guerra
Mundial, a maioria das estradas estavam em muito mau estado de conservação.
Para inverter esta situação, entre 1927 e 1931 realizam-se várias obras de
melhoramento das estradas e restantes infra-estruturas, acompanhando o forte
crescimento de veículos, que passaram de 6 000 para 27 300. Em 1933, dá-se uma
nova alteração à classificação das estradas: nacionais de 1ª e 2ª classe;
municipais e caminhos vicinais.
Já em 1945, é aprovado o Plano Nacional Rodoviário (PRN 45 –
Decreto-Lei nº 34 593, de 11 de Maio) que regula “(…) a classificação das
estradas nacionais (1ª, 2ª e 3ª classes), estradas municipais e caminhos
públicos, fixando as respectivas características técnicas.” (Relatório de
Monitorização da Rede Rodoviária Nacional, 2010). Quarenta anos depois, “(…) o
Plano Nacional Rodoviário de 1985 (PNR 85) que criou os conceitos de rede
nacional fundamental e de rede nacional complementar e desclassificou cerca de
12 000 estradas nacionais a transferir para as autarquias, passando a integrar a
rede municipal. (…) Em 1996 foi proposta a revisão do PNR 85 e em 1998 foi
publicado o Plano Rodoviário Nacional 2000 (PNR 2000). (…) No PNR 2000 é
definida a designação de Estradas Nacionais (ENs – estradas de importância
nacional) e desaparece a designação de OEs, passando a rede nacional
complementar a ser constituída por ICs e ENs. Além da rede rodoviária nacional
foi criada é definida a designação de Estradas Nacionais (ENs - importância
nacional) uma nova categoria viária, as estradas regionais (ERs), com
importância supra-concelhia. No novo plano rodoviário nacional foi incluída uma
rede nacional de auto-estradas com cerca de 3 000 km de extensão,
correspondente a mais de metade da extensão da rede de itinerários principais e
itinerários complementares.” (Relatório de Monitorização da Rede Rodoviária
Nacional, 2010).
O estudo aqui apresentado enquadra-se no Tema I – Eixos, mais
precisamente sobre a influência que duas estradas, actualmente denominadas de
estradas nacionais, tiveram no desenvolvimento urbanístico do centro histórico
de Torres Vedras: A EN 8 tinha como principal objectivo ligar Lisboa a Alcobaça
e a EN 9, que passou a ligar Cascais a Alenquer. Importa entender a estrutura
viária antecedente que levou ao “desenho” destas duas importantes vias de
comunicação, desenho esse que terá começado pelo menos durante a ocupação
romana e mantiveram-se estruturantes no ordenamento do território torriense e
na sua importância geo-estratégica, local e nacional. É inquestionável o papel
que ambas tiveram na caracterização da matriz urbana da cidade. As estradas
interceptam-se no centro da cidade, onde ainda hoje encontramos as
características placas toponímicas, no cruzamento entre as ruas Cândido dos
Reis, Dias Neiva e 9 de Abril. Actualmente, as duas estradas apresentam um
troço justaposto, com cerca de 380m de comprimento, designado como Rua Dias
Neiva.
Cruzamento entre as ruas
Cândido dos Reis, Dias Neiva e Mouzinho de Albuquerque. (Autor, 2015)
A Rua 9 de Abril é
historicamente uma das principais ruas comerciais do centro da cidade,
actualmente pedonal, foi outrora, parte da Estrada Nacional 8 e apesar da sua
pedonalização, é a rua do centro histórico que melhor resistiu às transformações
socioeconómicas e urbanísticas da última década. Este eixo (norte-sul) que
atravessa cidade foi, outrora, a Estrada Real nº 61 e é, pelo menos desde a
Idade Média, um eixo fundamental do desenho da urbe, quando Torres Vedras
torna-se no principal abastecedor de víveres do Mercado de Lisboa, papel que
ainda hoje exerce. No entanto, existia um eixo nascente-poente, a Rua da
Corredoura, actual Rua Cândido dos Reis, por onde passa a EN 9 em direcção a
Alenquer. A Idade Média deu continuidade a um dos princípios anteriormente
utilizados pelos romanos: as estradas estavam, geralmente, associadas às portas
das muralhas. Assim se sucedeu com a Corredoura, ou melhor, com a maioria da Corredouras deste
país. Torres Vedras também teve a sua porta da Corredoura, rua larga e direita,
indicada para corridas e uma das principais entradas da vila, facto atestado
pela existência do Chafariz dos Canos, onde cavaleiros e animais bebiam água,
protegidos de possíveis ataques, já no interior da muralha.
O ano de 1810 terá dado a
Torres Vedras uma projecção nacional e internacional, que ainda hoje faz parte
da sua própria identidade: Linhas de Defesa de
Torres Vedras. No âmbito das invasões francesas, a vila integrava o sistema
defensivo a norte de Lisboa, onde as Linhas de Torres,
idealizadas pelo Duque de Wellington, contemplavam uma estrutura defensiva com
uma dupla funcionalidade: proteger Lisboa de possíveis ofensivas vindas do
norte do País, e/ou garantir uma fuga segura ao exército inglês, rumo a
Inglaterra. Wellington receava que as tropas francesas conseguissem invadir
Portugal, e como tal, decide iniciar, em 1809, a construção das Linhas de Torres,
financiadas pela Grã-Bretanha. Bonaparte ordena a invasão de Portugal em 1810,
com tropas comandadas pelo Marechal André Massena, que chegou perto da vila em
Outubro desse mesmo ano, mas onde não conseguiu penetrar, acabando mesmo por
desistir. A vila recuperava assim, a sua importância geoestratégica, a nível
nacional, ganhando uma capacidade defensiva que nunca tivera, já que apenas
junto à vila, foram construídos quatro fortes: S. Vicente; Olheiros; Forca;
Monte de S. João. A construção de toda a estrutura defensiva provocou uma forte
alteração à paisagem da urbe e seu termo: abate de árvores; aberturas de fossos
e caminhos; pedreiras; limpeza de terrenos; demolição de casas. A fortificação
de maior dimensão e importância seria o Forte S. Vicente. Para além das
fortificações, Torres Vedras terá beneficiado com a execução da primeira
cartografia do seu território e com a construção de novos caminhos.
Apesar da sua ruralidade,
Torres Vedras teve a oportunidade de contactar com as inovações da revolução industrial,
mais cedo que a maioria das outras urbes, já que em 1873, chegava ao Largo da
Graça, o Larmanjat,
um meio de transporte foi trazido para Portugal pelo Duque de Saldanha,
cujo objectivo seria ligar Lisboa a Torres Vedras, seguindo depois para Caldas
da Rainha e Leiria. Grande parte do monocarril, foi instalado na antiga Estrada
Real nº 61. Existia outro trajecto, que ligava o Lumiar a Sintra. Aparentemente
tinha vantagem sobre o comboio, já que era um monocarril, que poderia circular
em caminho próprio, tornando-o mais flexível e económico em relação ao comboio.
Porém, a falta de segurança, outrora imputada às carruagens de tracção animal,
passou a sentir-se neste novo transporte: descarrilamentos constantes, e
atropelamentos de pessoas e gado. Tudo isto provocava um enorme transtorno aos
utilizadores, reflectido nos sucessivos atrasos. O local de recolha do Larmanjat
situava-se no denominado Bairro Tertuliano,
paralelo ao Largo da Graça, que começava afirmar-se cada vez mais como a
principal entrada da vila. Os constrangimentos anteriormente referidos, aliados
ao início das obras do caminho-de-ferro, ditaram o seu fim, em 1875. A 30 de
Dezembro de 1886, chegava a primeira locomotiva à estação de comboios,
provocando várias “revoluções” e uma delas foi o primeiro crescimento
periurbano planeado e grandes dimensões. Novas e maiores ruas e estradas,
afinal tudo se preparava para a chegada de outro meio de transporte
revolucionário: o automóvel.
Os caminhos e os rios terão
estado na génese da matriz urbana da maioria dos lugares e Torres Vedras,
apresenta-se como um caso paradigmático desta forma de urbanismo. Além disso,
este estudo pretende demonstrar a importância que estas duas estradas,
actualmente EN 8 e EN9, tiveram desde a sua génese, na matriz urbana da cidade
e a forma como ambas se foram reconfigurando e adaptando às exigências de cada
época.
Ortofotomapa – indicação das Estradas Nacionais
nº 8 e nº 9
BIBLIOGRAFIA
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Medievais. Lisboa: Livros Horizonte, 2003.
C.M.T.V. Plano de Pormenor de
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Vedras:
http://www.cm-tvedras.pt/viver/urbanismo/ordenamento-territorio/pp/pprchtv/
C.M.T.V. (2007). Plano de Pormenor do Choupal e Área Envolvente. http://www.cm-tvedras.pt/ordenamento-do-territorio/ambito-municipal/planos-de-pormenor/ppcae/
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Portuguesas: Uma introdução ao seu estudo. Lisboa: Livros Horizonte.
CULLEN, G. (2008) A Paisagem Urbana. Lisboa:
Edições 70. (edição original 1971).
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PACHECO, Elsa - Alteração das
acessibilidades e dinâmicas territoriais na Região Norte: expectativas,
intervenções e resultantes. Porto: Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, 2004
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