Cooperativa de Comunicação e Cultura
Orientação: André Duarte Baptista
10h e lá estavam os novos membros do
grupo de desenho de Torres Vedras: A H..e a Cr...e os Srs. A e L. Decidi
respeitar o direito à privacidade.
Confesso que quando me lançaram o
desafio, fiquei receoso, já que sempre me ensinaram que não devemos ensinar o
que não sabemos. No entanto, decidi investigar antes de responder à missiva e
descobri que esta forma de comunicação tem sido pouco,
muito pouco explorada em Portugal, pelo menos na prática. Quando me lançam
estes novos desafios recorro as vítimas do costume: a Rita e a Ana Luísa. Uma
deu-me a experiência e outra, os contactos. Foi assim que cheguei à Acesso
Cultura e à ACAPO que nos disseram desconhecer em Portugal quem trabalhasse o
tema diários gráficos com pessoas invisuais ou de muito baixa visão. Posto
isto, só me restava decidir. Deixava este terreno continuar estéril mas expectante,
ou ajudo amanha-lo e a semeá-lo para mais tarde podermos colher os
frutos.
Decidi arriscar e começar a estudar vários autores, mas era sempre no relato das pessoas onde encontrava o caminho. Aprendi muito, não apenas como ser humano, mas também como arquitecto, sob a forma de projectar, tendo em conta pequenos detalhes que podem fazer toda a diferença.
Todo o conhecimento acumulado por vários especialistas, permite-nos, sociedade do século XXI, passar da teoria à prática. Como? Arriscando e partilhando experiências, para que as conquistas possam ser conhecidas e multiplicadas e os fracassos sejam mitigados. Arriscar, mas tendo sempre o enfoque nas pessoas e nos seus sentimentos. As deficiências são encaradas de forma diferente. Se o ensino em geral deve ser personalizado, nestes casos nem se coloca outra hipótese. Por isso devemos arriscar, mas conscientes do impacto que estas experiências podem provocar, não só ao público alvo, como ao próprio formador. Afinal, o objectivo é dar continuidade aos projectos. Por isso, antes de avançarmos é importante recorrer a alguns princípios pedagógicos, ouvindo especialistas e técnicos que convivem diariamente com estas pessoas.
Avançar
sem receios, sem ideias preconcebidas, mas conscientes que vamos entrar num
corredor e que se tudo correr bem, podemos ser portadores de alguma luz e cor
ao proporcionando estas novas experiências. Para uns o corredor é longo e escuro,
onde as memórias de uma janela aberta já se dissiparam no tempo. A luz passa a
esperança. Outros ainda têm janelas entreabertas, quase fechadas, é certo, mas
lutam com todas as suas forças para que ela volte a abrir-se, conscientes que
não será fácil, mas enquanto o fazem, contrariam o encerramento total e
definitivo.
Esperança
e vontade, as melhores janelas que podemos ter para nos iluminarem em qualquer
novo desafio e que tem permitido a estes novos quatro amigos continuar a
escrever, a ler e a desenhar...sim a desenhar e de uma forma incrivelmente
semelhante a todos aqueles que gozam da visão na sua plenitude.
Quando lhes disse que iam desenhar num caderno e que esse caderno seria um novo amigo, fiel companheiro desta batalha, as reacções foram as mesmas ..."nunca tive jeito nenhum para o desenho" .... " aí se a minha filha vê isto"...." Ora, agora com esta idade é que vou ser artistas...querem la ver..." De repente ouviu-se..." Bem, vamos a isto" disse o sr A... com um sorriso e uma energia no mínimo inspiradora.
Quando lhes disse que iam desenhar num caderno e que esse caderno seria um novo amigo, fiel companheiro desta batalha, as reacções foram as mesmas ..."nunca tive jeito nenhum para o desenho" .... " aí se a minha filha vê isto"...." Ora, agora com esta idade é que vou ser artistas...querem la ver..." De repente ouviu-se..." Bem, vamos a isto" disse o sr A... com um sorriso e uma energia no mínimo inspiradora.
De repente os marcadores grossos começaram a riscar as folhas brancas do caderno (a4). Primeiro as rectas, depois as curvas, terminando nos círculos. "Está a ver André, eu não disse que não tinha jeitinho nenhum.
Muitas
das teorias que tinha lido, caíram por terra no primeiro contacto.
De repente começamos a ouvir " afinal até nem desenho assim tão mal" .... Se eu soubesse já tinha começado há mais tempo....
De repente começamos a ouvir " afinal até nem desenho assim tão mal" .... Se eu soubesse já tinha começado há mais tempo....
Aos
poucos a confiança começa a aumentar..." Já podemos começar a desenhar as
folhas (nespereira, verdes e nervuradas). Cada um à sua maneira conseguiu
identificar e representar a sua folha de uma forma impressionante ao ponto de
representarem a "teia que compõe a estrutura da folha". O preto, o
castanho, o “verde garrafa” e o azul escuro foram as cores preferidas. Ao fim
de duas horas, a vista começava a ficar cansada, mas insistentemente
contrariada pela vontade de continuar. "Bem, para concluir, vou desenhar o
retracto da minha bisneta de 2 anos, disse confiante o Sr A. E assim foi, um
momento único e inesquecível, superado apenas pela alegria e o orgulho com que
olhavam para os cadernos.
No
final houve a habitual partilha de diários gráficos. "Ó André deixe-me
rasgar as duas primeiras folhas" dizia o Sr L. Não Sr L, o diário gráfico
é mesmo assim, serve para aprendermos e registar memórias. No final, melhor que
os sorrisos, só a frase..." Quando é que voltamos a desenhar juntos?"
.... Em breve, prometo. Uma experiência impressionante. A repetir.
Aproveito
para agradecer à Dra Sandra Colaço do GADV, pelo convite dirigido à CCC e à
minha pessoa para orientar esta oficina de desenho.
A
consultar:
Obrigado
André Duarte Baptista
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